Neste romance experimental, bagadefente nos apresenta a saga de Leônidas Belleza — homem branco, hétero, de classe média — que se vê à deriva após o fim de um relacionamento durante a pandemia de covid-19. Trata-se de uma autoficção que tensiona os limites entre lembrança, invenção e registro, permitindo ao autor fabular a si mesmo enquanto escreve (e se escreve).
A narrativa é radicalmente híbrida e processual: poemas, diários, cartas datilografadas, transcrições de chats e sessões de regressão compõem uma tapeçaria literária em constante mutação. À medida que escreve, Leônidas percebe que está escrevendo um livro — e essa descoberta torna a própria escrita tema central, campo de experimentação e espelho esburacado.
Dividido em três partes que ecoam as etapas da transmutação alquímica — Nigredo, Albedo e Rubedo —, o livro atravessa temas como paternidade, política, masculinidade e ocultismo, em uma escrita informal, pessoal e ensaística. As monotipias de Baga Defente, que reinterpretam imagens de um manuscrito alquímico do século XV, reforçam o caráter denso, simbólico e fragmentário da obra.
Com uma honestidade brutal, por vezes incômoda, Teu sangue vermelho… oferece ao leitor não uma história pronta, mas um campo aberto — um convite à escuta interna, à reflexão e ao risco de também se perder (e se encontrar) nas palavras.



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